Tem-me ocorrido ultimamente que quando eu era pequena - e assim, vistas de longe - as coisas tinham outra piada.
Na minha casa, por exemplo, só havia um telefone, fixo, estrategicamente colocado na sala e dava serventia a toda a família de seis elementos.
Na altura falava-se menos ao telefone, bem menos. Acho que os meus filhos não vão nunca poder imaginar como era. Mas era realmente engraçado.
Lá em casa, o nome do filho varão era o do pai (tradição que mantive) e a confusão que isto dava! Lembro-me de ouvir a minha mãe perguntar à mocinha envergonhada "C.? sim, mas o pai ou o filho?", claro que ela sabia que era o filho, mas fazia sempre o mesmo número.
Dos quatro filhos acho que eu fui a que mais usei o aparelho, outros tempos, e além disso era a única menina...
Lembro-me de que quando alguém me telefonava o meu pai (ai os pais) ía imediatamente sentar-se na pontinha do sofá mais perto do telefone. Sempre com um ar muito sério e como se estivesse ocupado com outro assunto qualquer. Nunca se desmanchou e eu nunca o chamei à atenção.
A televisão claro que também era elemento único. Hoje eu tenho... bom algumas cá em casa. Também se via menos televisão, bem menos. Ainda não havia o hábito de a ter sempre ligada, como se de uma companhia se tratasse. Só tinha dois canais, claro, e durante muito tempo foi a preto e branco, todos sabemos. Todos menos os nossos filhos, daaa.
A música. A música também é uma coisa engraçada. Na minha casa havia mais sítios onde ouvir música, e ouvia-se mais, bem mais. Havia sempre um rádio na cozinha, alguns gravadores de cassetes espalhados pela casa mas, o elemento que mais me acompanhou foi a "máquina de bobines" como lhe chamavamos.
A máquina de bobines, uma Uher (cuja imagem mais parecida que consegui encontrar na net é esta. A nossa não era bem assim mas era muito parecida)
começou por ser instrumento de trabalho do meu pai. O gravador portátil da época que de portátil tinha muito pouco, pois pesava que se fartava. Outros tempos, nessa altura as pessoas não sofriam tanto das costas...
A tal máquina acompanhou o crescimento dos quatro filhos, sempre com as mesmas bobines que foram regravadas até à exaustão. Por lá passaram desde os AC/DC até ao Prince passando pelas pirosadas do meu irmão mais velho que eu não consigo lembrar (muito 70's).
Não havia aparelhagem de som, a alta fidelidade. Algumas pessoas tinham mas nós não. Mas, quando alguém ouvia música, toda a gente ouvia. Não havia auscultadores, os ditos headphones. De quando em vez também se ouvia "põe a música mais baixo!".
Hoje não, ouve-se menos música e quando se ouve só dá para um par de ouvidos. Passa nos PCs, MP3 e 4, ipods e outras coisas de som (im)perfeito e pessoal mas vem sempre, sempre pelos headphones.