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3 de novembro de 2009

Que tempos estes...

Nunca fui pessoa de dar esmolas. Sou da geração em que os pedintes são invisiveis; as deformidades alheias foram uma constante no meu crescimento, por isso não as vejo, não me chocam e não me comovem. Todos os dias, no caminho para o trabalho passava pela Praça da Figueira para apanhar o metro e para quem é de Lisboa não são precisas mais explicações.
No entanto, já tenho dado dinheiro; não esmolas, mas dinheiro.
Aqui há dias vi num telejornal uma notícia em que entrevistavam uma mulher da minha idade, com três filhos, como eu e que, tal como eu, estava também desempregada. A diferença entre nós, era que o marido dessa tal mulher também tinha perdido o seu emprego e, ao contrário de mim, essa mulher não tem família que a possa amparar em caso de necessidade, como é o caso. Ficou-me na memória ela dizer que muitos dias não sabia como ía arranjar 2€ para comprar pão... Não posso deixar de pensar nisto. Esta mulher, tinha o seu emprego, tem a sua casa que, como a maioria de nós, paga mensalmente ao banco. Esta mulher teve os 3 filhos a pensar que a sua vida seria estável, provavelmente sem grandes luxos, mas estável, com dinheiro para continuar a pagar a casa, as contas da electricidade, da água, do gás, enfim. Mas não foi assim.

Hoje fui à cidade, a um dos seus grandes centros comerciais. Fui comprar algumas roupas para os meus filhos pois o tempo ameaça mudar e é preciso mais uma camisola, mais um par de meias ou uns chinelos de inverno.
Houve um homem, provavelmente da minha idade, mas com um ar muito mais velho, que me pediu dinheiro. Ouvi-o dizer que estava a pedir para ir comprar medicamentos para o filho. A minha primeira reacção foi nem sequer o ver, disse-lhe que não e continuei a andar. No entanto, lembrei-me da mulher das notícias, a tal da minha idade, e voltei atrás. Procurei-o e dei-lhe a única nota que trazia comigo que infelizmente era pequena.
Se acredito que era para comprar medicamentos? Não sei. Acredito que ele me pediu porque estava a precisar. Acredito sim que tenha filhos. Acredito que não tenha trabalho. Acredito que não tenha a quem pedir. Acredito que alguém tem de o ajudar.
Que tempos estes!

9 comentários:

  1. Fizeste muito bem - eu também me sinto sempre dividida...

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  2. pois isso também me mete muita pena mas como é que sabemos se não nos mentem!

    já sou teu seguidor tia! tu ainda não!!!

    beijinhos

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  3. Pedro, nunca podemos saber se as pessoas nos mentem ou não; só temos de lhes dar o benefício da dúvida, quando achamos que vale a pena. Não concordas?
    Vou já tratar do 2º assunto.
    beijinhos sobrinho :)

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  4. És linda Rosa! Sempre... Fizeste mt bem!

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  5. Quando vivemos numa cidade grande, e por exemplo andamos de metro, a pobreza torna-se quotidiana e banal. Acho que é a idade, começarmos a perceber que a vida pode ter sérias contrariedades, que nos dá uma maior tolerância e solidariedade para ajudarmos, mesmo sem ter a certeza de que o dinheiro vai ser utilizado para comprar comida.
    Beijos.

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  6. Maria!
    Olá boa tarde. Um grande a fraterno abraço a você. Emocionante seu relato e penso que de uma forma ou de outra todos em qualquer parte deste mundo temos as mesmas duvidas.
    Então, nestas horas o melhor e seguir a intuição e fazer no momento apenas o nosso melhor. E para homenagear você, Maria, um pedacinho da música brasileira, do cantor brasileiro Milton Nascimento - Maria, Maria:

    Maria, Maria
    É um dom, uma certa magia
    Uma força que nos alerta
    Uma mulher que merece
    Viver e amar
    Como outra qualquer
    Do planeta

    Maria, Maria
    É o som, é a cor, é o suor
    É a dose mais forte e lenta
    De uma gente que rí
    Quando deve chorar
    E não vive, apenas aguenta

    Mas é preciso ter força
    É preciso ter raça
    É preciso ter gana sempre
    Quem traz no corpo a marca
    Maria, Maria
    Mistura a dor e a alegria....

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  7. Sala de Costura: o Mundo não é assim tão diferente, não é? Muito obrigada pela homenagem, gosto muito dessa música na voz da Simone!

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  8. Concordo contigo, depois do comentário que fiz sobre o teu post, o teu comentário sobre o meu está com 100% razão. bjs tia!

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