Nunca fui pessoa de dar esmolas. Sou da geração em que os pedintes são invisiveis; as deformidades alheias foram uma constante no meu crescimento, por isso não as vejo, não me chocam e não me comovem. Todos os dias, no caminho para o trabalho passava pela Praça da Figueira para apanhar o metro e para quem é de Lisboa não são precisas mais explicações.
No entanto, já tenho dado dinheiro; não esmolas, mas dinheiro.
Aqui há dias vi num telejornal uma notícia em que entrevistavam uma mulher da minha idade, com três filhos, como eu e que, tal como eu, estava também desempregada. A diferença entre nós, era que o marido dessa tal mulher também tinha perdido o seu emprego e, ao contrário de mim, essa mulher não tem família que a possa amparar em caso de necessidade, como é o caso. Ficou-me na memória ela dizer que muitos dias não sabia como ía arranjar 2€ para comprar pão... Não posso deixar de pensar nisto. Esta mulher, tinha o seu emprego, tem a sua casa que, como a maioria de nós, paga mensalmente ao banco. Esta mulher teve os 3 filhos a pensar que a sua vida seria estável, provavelmente sem grandes luxos, mas estável, com dinheiro para continuar a pagar a casa, as contas da electricidade, da água, do gás, enfim. Mas não foi assim.
Hoje fui à cidade, a um dos seus grandes centros comerciais. Fui comprar algumas roupas para os meus filhos pois o tempo ameaça mudar e é preciso mais uma camisola, mais um par de meias ou uns chinelos de inverno.
Houve um homem, provavelmente da minha idade, mas com um ar muito mais velho, que me pediu dinheiro. Ouvi-o dizer que estava a pedir para ir comprar medicamentos para o filho. A minha primeira reacção foi nem sequer o ver, disse-lhe que não e continuei a andar. No entanto, lembrei-me da mulher das notícias, a tal da minha idade, e voltei atrás. Procurei-o e dei-lhe a única nota que trazia comigo que infelizmente era pequena.
Se acredito que era para comprar medicamentos? Não sei. Acredito que ele me pediu porque estava a precisar. Acredito sim que tenha filhos. Acredito que não tenha trabalho. Acredito que não tenha a quem pedir. Acredito que alguém tem de o ajudar.
Que tempos estes!